Mulher, mãe e caminhoneira

Encarar estradas perigosas, trânsito, cansaço. Ficar longe de casa e dos filhos por dias, semanas. Essa é a rotina de uma legião de profissionais que ganham a vida transportando riquezas pela imensidão do Brasil. Mas se engana quem pensa que há apenas homens ao volante de caminhões. No mês das mães, prestamos uma singela homenagem às mulheres que desafiam limites e provam que fibra não é questão de gênero. Uma dessas guerreiras é Terezinha Iugas. Mãe de três filhos, ela começou a trabalhar com transporte de cargas há dez anos, na Braspress, onde está até hoje. Quando ingressou na profissão, uma de suas filhas tinha só oito anos. Ela não se arrepende. “Ser transportadora fez a diferença na minha vida. Sou muito grata por isso, mas filho é filho. A gente não deixa de se preocupar e de querer estar presente na vida deles”, afirma. Casada com o caminhoneiro Albino de Lima há 40 anos, Elenir Cieslak teve de assumir o volante de um caminhão há 22 anos, quando o marido sofreu um acidente. Há dez anos ela tem seu próprio Iveco (de 2010) com seis eixos. “Isso fortaleceu meu casamento e o relacionamento com meus filhos. Aliás, mesmo meu marido sendo contra, ensinei três deles a serem caminhoneiros”, diz dona Elenir. Outra veterana da estrada é Dacirley Bertolim da Silva, de 75 anos. Mãe de cinco filhos biológicos e três adotivos, ela conta que aos 16 anos já sabia dirigir, ajudava a carregar e descarregar as mercadorias e limpava a garagem. Dona Darciley diz que teve o primeiro contato com o ofício quando ainda era um bebê. Na boleia do caminhão do pai, ela, os três irmãos e a mãe cruzavam as estradas do País. Por 55 anos ela trabalhou ao volante de caminhões e ônibus. Motorista de ônibus há 18 anos, Solange Correa diz que desde criança já sabia qual era sua vocação. “Eu olhava para o ônibus e dizia: um dia vou ser motorista. Ela teve muito apoio da família – tem irmãos carreteiros e irmã motorista

Mãe de três filhos, Terezinha começou a trabalhar com transporte de cargas há dez anos. “Isso fez a diferença na minha vida”, diz

Aos 88 anos, dona Nahyra ainda dirige

A alemã Nahyra Schwanke chegou ao Brasil ainda bebê e passou 60 de seus 88 anos na estrada. Ela carrega o título de caminhoneira mais antiga do Brasil – subiu pela primeira vez na boleia aos 28 anos e, eventualmente, ainda dirige. A mãe dela era comerciante em Não-Me-Toque (RS) e precisou comprar um caminhão para distribuir o que era plantado na roça. “Como eu já dirigia trator, ela disse que eu faria as entregas”, conta dona Nahyra. Ela já rodou o Brasil de ponta a ponta e teve de conciliar a profissão com o papel de mãe. “Quando eu viajava, minha filha Saleti ficava com os meus pais. Não havia celular. Tinha de encontrar um posto para ligar para casa e ter notícias.” As viagens diminuíram, mas ainda acontecem. Atualmente, dona Nahyra guia um bruto com câmbio automático. “Eu gosto mesmo é de dirigir”, diz.

Elas encaram as estradas do País e, por causa do ofício, ficam longos períodos sem ver os filhos